Deflagrado normalmente para reivindicar a garantia dos direitos de uma determinada categoria, como melhores condições de trabalho e aumento de salário, o movimento paredista tem sido motivo de polêmica nos últimos anos. Iniciada no Brasil ainda no século XIX e reforçada no começo do século XX, com a Greve Geral de 1917, essa luta de classes vem dividindo opiniões dos trabalhadores e da população, principalmente em relação aos seus limites e prejuízos.
Em 2012, essa situação se agravou, ainda mais, com a greve do ensino público federal. Com adesão de mais de 95% das instituições federais de ensino superior, a paralisação foi considerada a maior já realizada no país. O movimento, que teve início no dia 17 de maio, reivindicou a reestruturação da carreira dos docentes e o reajuste salarial dos servidores. Encerrada somente 120 dias depois, em grande parte das instituições, a greve afetou quase 80 universidades e mais de 100 mil estudantes.
Não resta dúvida de que a educação interfere diretamente na formação humana e na construção do sujeito e, por isso, nada mais justo do que profissionais valorizados e recursos financeiros suficientes para investimento em programas da área. A questão é que mesmo legal, o movimento acaba desconsiderando outros aspectos que também são de direito fundamental e de cunho social, como a situação dos estudantes e de toda a população envolvida direta ou indiretamente.
Nesses quatro meses, o calendário acadêmico foi paralisado e as aulas foram suspensas, o que causou um grande atraso no semestre letivo e, consequentemente, atropelamento do conteúdo pendente durante sua reposição. Além disso, todo o calendário teve de ser reorganizado. Dessa forma, mesmo sem perda de semestre, os estudantes foram penalizados com a adaptação depreciada da metodologia de ensino e reposição das aulas no período de férias.
Nesse caso, os formandos também foram prejudicados. Com a suspensão das aulas, eles se viram obrigados a reprogramar suas comemorações. O período para festas foi substituído pela recuperação do conteúdo perdido. Como os técnico-administrativos também deflagraram greve, atrasos na emissão das notas finais e, consequentemente, do diploma também foram notificados. Além disso, o calendário seguinte, na maioria das instituições, também sofreu significativo atraso.
Não há dúvidas de que muito ainda precisa ser feito para melhorar a educação brasileira, contudo, medidas alternativas, que não prejudiquem os jovens estudantes, também devem ser estudadas diuturnamente. Lutar pela garantia de um direito, violando o direito de outrem, acaba soando como contradição, por isso, mais do que garantir a realização de processos seletivos ou reposição do prejuízo, não seria melhor preservar o presente e garantir o futuro desses estudantes? Fica a pergunta. Fica a reflexão.
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