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Dicas para a prova de Português do Enem

O Enem quer leitores competentes, que consigam ler as entrelinhas. Para isso, é necessário saber interpretar – o grande desafio dos candidatos na prova de Português do Enem.

Publicado por Mayra Gabriella de Rezende Pavan
Ao estudar para a prova de Português do Enem, uma das grandes dúvidas é o que poderá ser pedido, por isso é importante ficar atento às dicas

Durante muito tempo, as escolas buscavam desenvolver nos alunos sua capacidade de memorização, logo, os melhores alunos eram os que conseguiam decorar os conceitos. Portanto, não importava se o estudante saberia aplicar o conceito aprendido em seu cotidiano, bastava que ele soubesse reproduzir, na maioria das vezes, sem nem raciocinar o conceito trabalhado em sala. Por isso, era bastante comum encontrar alunos com diversas estratégias para decorar. Hoje, esse tipo de aluno perdeu espaço para o que sabe pensar, o que questiona, o que faz inferências, que não lê apenas as linhas, mas consegue entender as entrelinhas. É com essa nova visão que o Enem trabalha para saber se o candidato sabe interpretar dados, pensar, tomar decisões adequadas e aplicar conhecimentos em situações concretas.

Para se preparar para o Enem, a leitura é a sua principal ferramenta, leia diferentes gêneros textuais, mas não leia despretensiosamente, seja um leitor competente, compare informações, leia o que está nas linhas, mas principalmente analise as entrelinhas, faça inferências, perceba a pontuação, lembre-se de que tudo o que está no texto é importante e deve ser analisado.

Não leia apenas a linguagem verbal, mas também a não verbal, analise os dados que são colocados no texto. Aprenda a ler todos os gêneros textuais (gráficos, bulas, charges, tiras, cartuns, editoriais etc.). Atente também para o tipo de linguagem apresentado pelo texto e suas particularidades, por exemplo, em geral, as charges, tiras e cartuns são textos que utilizam a ironia, a ambiguidade, objetivando a crítica. Então, considere isso no momento da leitura. Se o texto for um editorial, faz parte do texto argumentativo, logo haverá argumentos e contra-argumentos, prós e contras que serão analisados.

É importante analisar também se o texto utiliza-se da linguagem denotativa ou conotativa, pois, para cada tipo de linguagem, é necessário que se utilize “um tipo de óculos”, ou seja, a visão deve ser diferente para cada tipo de texto, pois ou as palavras deverão ser entendidas em sentido literal, real, da forma que aparecem no dicionário (linguagem denotativa), ou deverão ser vistas em sentido figurado, ou seja, fora de seu uso comum, portanto, para serem entendidas, devem ser interpretadas.

Ler não é só entender as palavras, mas é também visualizar o que está por trás delas, ou seja, a intenção do falante. Por exemplo, o enunciado “O comportamento do deputado foi digno de aplauso” pode ser entendido de duas formas: literalmente, tendo sido aplaudido por ter feito algo bom para a população; ou pode ser entendido como uma ironia. Quem definirá a interpretação nesse caso? O contexto, ou seja, a situação.

O leitor competente é ativo, logo, “discute” com as informações recebidas, analisa as pausas, a pontuação, ou seja, entende que nenhum texto é feito sem uma intenção, logo ele é repleto de significados, que podem ser encontrados nas linhas ou podem estar nas entrelinhas.

Alguns podem estar se perguntando, mas o que fazer para desenvolver uma leitura competente? Seguramente é mais fácil do que você imagina.  Sabe aquela roda de amigos que, em geral, encontra-se para se divertir ou jogar conversa fora? Então, tire um tempinho da reunião para o “papo-cabeça”. Defina temas para sempre apresentados a partir de gêneros diferentes e que depois serão debatidos. Analise os argumentos, os contra-argumentos, enfim, construa o hábito de questionar. A mídia está passando essa informação, mas por quê? Todos os canais estão com a mesma visão, por quê? Com que objetivo essa informação foi vinculada dessa maneira? Há pontos divergentes, quais? Enfim, não é simplesmente “engolir” o que está sendo distribuído, mas, no mínimo, é preciso antes fazer a “mastigação”, o que, no caso do texto, trata-se exatamente dessa discussão, desse debate.

A comparação entre textos ajuda, pois pontos de vistas serão confrontados. Cada argumento será construído de uma maneira, mas todo texto tem um assunto principal, aprender a descobri-lo é muito importante, pois, na prova de redação, o tema vem a partir dos textos de apoio, ou seja, muitas vezes não está explícito e precisa ser entendido, então, fazer exercícios buscando encontrar o tema ou o assunto principal de cada texto é importante.

A gramática não é mais cobrada da forma que era antigamente, ou seja, descontextualizada, hoje ela sempre é abordada dentro do texto. Por exemplo, não basta conhecer todas as conjunções, é preciso entender os efeitos de sentido transmitidos por cada uma delas, por exemplo, de causa, de comparação, de explicação etc.

O conceito de certo e errado deve ser substituído pelo de adequado e não adequado, logo, a intenção do falante, o contexto e o tipo de linguagem devem ser considerados. Por exemplo, um senador no plenário discursar usando gírias e coloquialismo (expressões usadas na fala) não é adequado, como também não é adequado que, em sua casa, com seus filhos ou amigos, ele use o mesmo tipo de linguagem que usa no plenário. Alguém que vai pleitear uma vaga de emprego não pode usar a mesma linguagem com o entrevistador que usaria com alguém da família. Isso é adequação linguística e entender esse conceito é fundamental para as provas do Enem.

Outro fator bastante relevante que merece atenção dos candidatos é a variação linguística. Durante muito tempo, convencionou-se que determinada região era melhor que outra. Esse conceito não existe mais, pois, hoje, entende-se que uma variação não é nem melhor nem pior, somente diferente.

O Brasil possui dimensões continentais, logo, é impossível que haja uma uniformidade linguística, por isso, quanto mais conhecemos a cultura brasileira, mais valorizamos o que é diferente, pois se percebe que a riqueza do Brasil está também na diferença linguística. Veja alguns exemplos:

Em Goiás, estoura-se o balão; em Maceió, poca-se a bola.

Em São Paulo, não se consegue fazer algo, mas em Goiás não se dá conta de fazê-lo.

Em Curitiba, os piás dão um trabalho, já em Maceió são os pivetes; em São Paulo, os moleques; no Rio de Janeiro, os garotos; e em Goiás quem dá trabalho são os meninos.

Se você for ao Nordeste e pedir uma lapiseira, não se assuste se alguém te entregar um apontador. Também não se desespere se pedir um grafite e receber uma linda lapiseira.

Com esses pequenos exemplos, percebemos que, às vezes, parece que estamos em outro país, não é mesmo? Além das variantes linguísticas, saber diferenciar a língua falada da língua escrita, conhecendo suas características, é muito importante, pois isso também é um aspecto que envolve a adequação linguística.

A linguagem é um instrumento determinante para a aproximação entre as pessoas, por isso, conhecer os tipos de linguagens, bem como suas funções, é fundamental. Dessa forma, não se esqueça de revisar as funções da linguagem, pois, especialmente, a metalinguagem (a língua explicando a própria língua) é bastante explorada no Enem.

É importante ressaltar que a capacidade de leitura e interpretação é exigida em todas as questões de todas as disciplinas da prova, por isso é importante aprender a ler de forma crítica e competente.

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