Comentário da Redação do Enem 2019
Tema da redação do Enem 2019 foi Democratização do acesso ao cinema no Brasil. Veja o que a banca esperava dos participantes.
A proposta de redação do Enem 2019 teve como tema a “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Em um aspecto mais amplo, a proposta tematizou a falta de acesso - “democratização” - à Cultura no Brasil e propôs, como foco, o cinema. Considerando a amplitude do tema, diversas abordagens e problematizações são possíveis nesta proposta.
O Texto 1 da coletânea, do teórico de cinema Jean-Claude Bernardet, apresenta uma abordagem histórica e remonta às origens do cinema no final do século XIX. O texto expõe como os inventores do cinema - Lumière e Mélies - não tinham ideia de que o instrumento do “Cinematógrapho" transformaria a História do século XX ao inventar uma nova forma de contar histórias para grandes massas.
O candidato poderia utilizar o texto de Bernardet como forma de contextualização histórica tendo em vista os avanços tecnológicos do final do século XIX e início do século XX. Além disso, poderia utilizá-lo como base para uma discussão sobre a influência e importância do cinema nos diversos acontecimentos do século XX - da diversidade cultural que o cinema oferece às propagandas que a indústria cinematográfica criou para Hitler e Stalin, por exemplo.
O Texto 2 da coletânea, da socióloga Cristiane Freitas Gutfreind, baseia-se na definição de cinema do filósofo francês Edgar Morin. Para Morin, o cinema funciona como forma de registro e ressignificação da experiência, de modo que o espectador se identifica e se transforma a partir do que vê na tela de cinema.
O candidato poderia utilizar a ideia de Morin para desenvolver a importância e a relevância do cinema para a construção do conhecimento, para o autoconhecimento, para enxergar a subjetividade do outro. Neste caso, exemplos de filmes, se problematizados e articulados ao argumento de Morin, seriam bem-vindos.
O texto 3 da coletânea, do site “meioemensagem”, apresenta dados sobre o hábito do brasileiro em relação ao consumo de filmes no cinema e na televisão. Os dados apontam que 88% dos telespectadores brasileiros assistem a filmes regularmente na TV; em contrapartida, apenas 19% dos telespectadores de filmes na TV vão ao cinema. Além disso, revelam que somente 17% da população brasileira frequenta o cinema; e desses 17%, 95% assistem filmes na TV. Desta forma, os dados revelam como o hábito de ir ao cinema é muito menor do que o de assistir a filmes na TV, o que indica que assistir a filmes é algo importante para o brasileiro, mas a forma de essa experiência ocorrer não é na sala de cinema. Alguns motivos que explicam a baixa frequência do brasileiro em cinemas foram expostos no texto 4 da coletânea.
O texto 4, retirado do site da Ancine (Agência Nacional do Cinema), apresenta dados sobre a quantidade de salas de cinema no Brasil em três momentos históricos diferentes: 1975, 1997 e atualmente. Em 1975, havia 3.300 salas de cinema no Brasil, 80% delas no interior do país. Em 1997, o Brasil tinha apenas 1.000 salas. A explicação oferecida pelo texto é a de que a rápida urbanização, a falta de investimento em infraestrutura, a baixa capitalização de empresas exibidoras e as mudanças tecnológicas afetaram o funcionamento e a existência das salas de cinema no país. A partir dos anos 2000, o texto aponta que a expansão dos shopping centers fez com que as salas aumentassem – atualmente, há em torno de 2.200 salas de cinema no Brasil. Porém, o texto aponta que este aumento se deu principalmente nas áreas de renda mais alta das grandes cidades, de modo que houve uma concentração - e não uma “democratização” - de salas exibindo filmes. Assim, o texto aponta que a maior parte da população brasileira foi excluída do acesso ao cinema: estados do Norte e Nordeste, periferias urbanas, cidades médias e pequenas do interior.
Tendo em vista que a redação Enem cobra propostas de intervenção para o problema, o candidato teria, no texto 4, algumas informações que poderiam ser utilizadas como “causa" da falta de "democratização do acesso ao cinema no Brasil” e, portanto, das propostas possíveis. Neste sentido, poderia mobilizar os três setores - instâncias governamentais, instâncias privadas e instâncias civis e sociais - e propor mudanças em relação à falta de investimento na infraestrutura do setor, à baixa capitalização de empresas exibidoras, à descentralização das salas de cinema, aos custos de ir ao cinema e ao local onde se encontram as salas, por exemplo.