Ansiedade no Enem: como cuidar da saúde mental nos estudos?
Estudantes e profissionais falam sobre a ansiedade nos estudos para o Enem e vestibulares e como cuidar da saúde mental.
Ansiedade no Enem. Essa é uma realidade para muitos estudantes que se preparam para a maior avaliação educacional do país.
Ao longo do período de estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares, é comum que os estudantes encontrem obstáculos relacionados a aspectos emocionais.
A campanha Setembro Amarelo é dedicada à prevenção ao suicídio e promove reflexões acerca da importância do cuidado da saúde mental.
No caso dos estudantes que estudam para o Enem, é importante observar como a ansiedade e outros aspectos emocionais se manifestam durante os estudos.
A pandemia de Covid-19 provocou o isolamento social como medida de prevenção ao coronavírus e afetou diretamente o sistema educacional. As aulas tiveram de ser adaptadas ao ensino a distância e, com isso, surgiram dificuldades no processo de aprendizagem e ensino.
Confira abaixo alguns dados sobre pesquisas que relacionam a realidade estudantil em contexto de pandemia:
O Super Vestibular conversou com profissionais da Psicologia e vestibulandos para entender como a ansiedade pode ser percebida nesse período pré-Enem e como os estudantes podem cuidar da saúde mental.
Ansiedade nos estudos
A ansiedade é um sentimento comum e que faz parte da vida, segundo a Dra. Célia Regina da Silva Rocha, que é professora do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul. Esse sentimento pode ser considerado um fator importante, pois se torna um sinal de alerta para o nosso cérebro, que provoca uma reação diante de determinada situação, segundo a educadora.
Diante de algo novo, uma prova importante que se aproxima ou uma apresentação de trabalho, a tendência é que as pessoas se sintam ansiosas. Para Célia, a ansiedade se torna um problema na medida que ela fica desproporcional às situações vividas, impactando de forma negativa o funcionamento do cotidiano.
A relação da ansiedade com os estudos é evidenciada, de acordo com a psicóloga, com as pressões vivenciadas pelos estudantes, as que são exercidas pelos seus pais, pela escola e por eles próprios. É comum que esse sentimento seja preponderante na expectativa de um bom desempenho escolar, na realização das atividades acadêmicas e também nas provas, considera Célia.
“O adolescente sofre toda uma gama de pressão emocional, ele próprio por conta da indecisão quanto ao futuro, a insatisfação, dificuldade para estabelecer a própria identidade, a sobrecarga de atividades escolares. Por outro lado, a família exercendo a cobrança em relação a escolha de uma profissão e ao bom desempenho escolar, são aspectos significativos que contribuem para que os alunos, notadamente aqueles do ensino médio, estejam mais vulneráveis ao transtorno de ansiedade.”
Profa. Dra. Célia Regina da Silva Rocha
Diante dessas emoções, alguns sintomas da ansiedade exacerbada podem afetar a qualidade do sono, a alimentação, atenção e concentração nos estudos, argumenta a professora Célia Regina.
Na perspectiva da psicóloga clínica infantojuvenil Laudyana Lamônica, a ansiedade passa a ser considerada patológica quando ocorre sintomas físicos, cognitivos e comportamentais, tais como o medo, preocupação excessiva, irritabilidade, aceleração de batimentos cardíacos, dores de cabeça frequentes, tensão muscular e queda no rendimento escolar.
Para Maria Eduarda (18), vestibulanda de Medicina, a cobrança excessiva torna a ansiedade muito punitiva e agrava esse sentimento. A jovem relata que sua ansiedade começa a se manifestar de forma mais intensa a partir do momento em que faz a inscrição em determinado processo seletivo. Ela busca se ocupar com exercícios físicos e praticar uma respiração profunda como mecanismo de controle da ansiedade.
Segundo a estudante Bianca Rosa (20) que começou a fazer o cursinho quando iniciou a pandemia, o formato do ensino a distância prejudicou no aprendizado, pois afetou o contato com os professores.
Já a nova realidade causada pela pandemia para a vestibulanda de Medicina Mariana Braga (19) a fez se cobrar mais, devido ao isolamento, uma vez que não havia a presença constante da figura de um educador.
O esgotamento mental causado pelo excesso de conteúdo a ser estudado é um dos maiores desafios para a estudante Hisy Ellen (20). Entre as atividades que a jovem realiza para amenizar a ansiedade está a prática de exercício físico e técnicas de relaxamento.
Os maiores desafios para o estudante de pré-vestibular Leonardo Estrela (21), é lidar com as reprovações em alguns vestibulares e manter a disciplina nos estudos. Ele relata que as consultas com a psicóloga contribuem para a manutenção do foco neste processo, como também na compreensão de que uma reprovação é parte da trajetória para o êxito.
No dia da prova, uma das formas utilizadas pelo vestibulando de Jornalismo Gustavo Henrique (20) é observar o ambiente, o local de realização do exame. Ele também busca se distrair, conversando com pessoas que não conhece, bem como não se esgotar nos momentos que antecedem a prova.
A psicóloca Laudyana Lamônica destaca que é importante para o dia do Enem não estudar ou revisar conteúdos. Procurar dormir mais cedo, fazer refeições leves e saúdaveis, hidratar-se bastante, são dicas mencionadas por ela. A profissional enfatiza também que há técnicas que contribuem para reduzir a ansiedade tais como a meditação e a respitação diafragmática.
Leia também: como controlar a ansiedade às vésperas do Enem?
Como cuidar da saúde mental durante os estudos?
É fundamental que o estudante tenha qualidade de vida na preparação para uma prova importante como a do Enem. A qualidade é mais importante que a quantidade, afirma Sávio Teixeira que é médico psiquiatra e professor do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Para Sávio é importante que o estudante tenha momentos de fruição, de lazer, bem como de autocuidado como é o caso da prática de exercícios físicos. O exercitar-se é essencial para a manutenção da saúde do vestibulando e pode contribuir no rendimento dos estudos, pontua o professor.
A estudante Maria Eduarda destacou que foi crucial o suporte psicológico neste percurso de estudos para o Enem e vestibulares. Apesar de ainda existir uma cobrança e crises de ansiedade, ela considera que o apoio profissional da Psicologia contribui para que ela possa ter uma jornada de estudos mais rentável e saudável, como também a lidar melhor com seus próprios sentimentos.
No caso da vestibulanda de Medicina Mariana Braga, o diálogo com a psicóloga a ajudou a melhorar o foco nos estudos, a dormir melhor e a se sentir menos cansada fisicamente.
A terapia se torna uma ferramenta fundamental para os jovens estudantes do pré-vestibular, possibilitando uma amenização nas tensões e angústias, como também demonstrando alternativas práticas de redução do estresse.
A estudante Hisy Ellen conta que aprendeu com o processo psicoterapêutico técnicas de relaxamento e a mentalizar no melhor que ela poderia fazer no momento ao invés de sofrer com determinada situação.
Confira o bate-papo com o psiquiatra Sávio Teixeira sobre saúde mental de adolescentes e estudantes.
Ansiedade no Enem: rede de apoio
Uma importante iniciativa a ser aplicada pelo poder público, segundo a psicóloga Laudyana Lamônica, é a obrigatoriedade do profissional de Psicologia na escola. Com o acompanhamento desses profisisonais, seria possível desenvolver um trabalho psicológico com qualdiade para ajudar na preparação das crianças e jovens em diferentes momentos da vida.
O preparo psicológico é fundamental para o vestibular, por isso é importante buscar ajuda profissional nesta fase de preparação. Respeite os limites do seu corpo, não ultrapassando horas de tempo de estudo especialmente na reta final da prova. Busque dormir bem, não privando seu sono para utilizar o tempo para estudar, pois dormir tem um papel importantíssimo na consolidação da memória, além do corpo precisar recarregar as energias para atingir seu máximo potencial. Ter momentos de lazer para baixar a ansiedade e encontrar atividades que acalmam. Lembrar que a aprovação não é um medidor do esforço de cada um. A aprovação depende de muitas variáveis, dentre elas ter uma relação saudável com o vestibular.
Laudyana Cabral Lamônica, psicóloga clínica infantojuvenil
Laudyana reforça o papel da família nesse processo, que é de construir um suporte de incentivo e apoio. Ela destaca que os familiares são importantes para a organização do tempo e espaço de estudos e que devem respeitar o cansaço e as escolhas profissionais dos estudantes.
A promoção de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e a alimentação saudável, devem ser incentivados em conjunto tanto pela escola quanto pela família, afirma a psicóloga. Ela salienta também que ambas as intituições devem estar atentas à saúde emocional dos estudantes.