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Como estudar Filosofia para o Enem

Questões de Filosofia demandam capacidade de leitura, de interpretação e de interligar temas filosóficos à vida cotidiana.

Publicado por Francisco Porfírio
História da Filosofia está presente por meio de diferentes abordagens no Enem

Neste texto, você encontrará dicas que irão orientar o estudo especificamente para as questões de Filosofia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas que também podem lhe ajudar a resolver as questões de Ciências Humanas em geral.

O Enem é elaborado para medir o nível de aprendizado de certas competências e habilidades que as autoridades dos órgãos da educação julgam ser necessárias a todo estudante que tenha concluído o Ensino Médio. Por isso, dificilmente se encontra alguma questão do Enem que aborde apenas um conhecimento específico em uma única disciplina. 

As provas cobram, geralmente, a capacidade de leitura e interpretação textual, uma prática transversal de aprendizado interdisciplinar e a capacidade de interligar temas e conhecimentos científicos, filosóficos e artísticos com a vida prática e cotidiana.    

Não é difícil conseguir um bom desempenho no Enem. É preciso, obviamente, um comprometimento do aluno com o estudo diário por meio de manuais, textos, videoaulas e das aulas escolares. Também é necessária uma boa orientação. Confira as principais dicas de como estudar Filosofia para o Enem!

Dicas

1 – Estude amplamente toda a história da Filosofia

Saiba pelo menos as características gerais de cada período e os aspectos do pensamento dos filósofos mais destacados: Pitágoras entre os pré-socráticos; Platão e Aristóteles entre os helênicos; Agostinho e Tomás de Aquino entre os medievais;  Descartes, Bacon e Hobbes entre os modernos; Nietzsche, Foucault e Adorno entre os contemporâneos, entre outros.   

2 – Consiga ler e interpretar bem e de maneira dinâmica

Otimize seu tempo para resolver as 90 questões (a maioria com fragmentos de textos) em pouco tempo. Para conseguir o nível de leitura exigido, o candidato deve praticar a leitura diariamente, de modo incansável. Para facilitar esse processo, a prática da leitura não deve ser tortuosa.  

Assim, além dos materiais de estudo, o estudante deve ler livros literários, histórias em quadrinhos, revistas e matérias jornalísticas de seu interesse. A leitura deve ser realizada, também, como maneira de relaxar.

Quase que em sua totalidade, as questões de Filosofia são compostas por fragmentos de textos, sejam de filósofos já consagrados ou canonizados na História da Filosofia, sejam de estudiosos de Filosofia que se dedicam à especialização em algum tema filosófico ou filósofo em específico. 

O “corpo” de cada questão é, em sua totalidade, importante. O candidato deve ler cada informação contida no fragmento, na referência do fragmento (o nome do autor, da obra e o ano de publicação), no enunciado e nas alternativas. Essas informações podem conter a resposta ou levar o estudante a estabelecer relações que o leve à resposta correta.    

As questões de Filosofia cobram, em geral, as seguintes habilidades e competências dos candidatos:

a) ler e interpretar textos filosóficos; 
b) ler, interpretar e relacionar o fragmento filosófico a algum conhecimento da História da Filosofia; 
c) ler e interpretar criticamente e relacionar aquilo que foi lido a uma situação cotidiana ou prática; 
d) ler, interpretar e relacionar o que foi lido aos conteúdos específicos de alguma ou algumas disciplinas da grande área de Ciências Humanas.

Confira a seguir algumas questões do Enem, com soluções comentadas que demonstram os quatro itens elencados acima.

Questões de Filosfia no Enem: exemplos 

Enem 2017
O conceito de democracia, no pensamento de Habermas, é construído a partir de uma dimensão procedimental, calcada no discurso e na deliberação. A legitimidade democrática exige que o processo de tomada de decisões políticas ocorra a partir de uma ampla discussão pública, para somente então decidir. Assim, o caráter deliberativo corresponde a um processo coletivo de ponderação e análise, permeado pelo discurso, que antecede a decisão. 
VITALE, D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia deliberativa. Cadernos do CRH (UFBA), v. 19, 2006 (adaptado). 

O conceito de democracia proposto por Jürgen Habermas pode favorecer processos de inclusão social. De acordo com o texto, é uma condição para que isso aconteça o(a): 

A) participação direta periódica do cidadão; 
B) debate livre e racional entre cidadãos e Estado;
C) interlocução entre os poderes governamentais;
D) eleição de lideranças políticas com mandatos temporários;
E) controle do poder político por cidadãos mais esclarecidos.

 
Resposta comentada 
Essa questão requer do candidato a capacidade de leitura e interpretação do fragmento apresentado. Deve-se tomar muito cuidado com a interpretação. Em geral, os textos filosóficos apresentam um sistema lógico argumentativo fechado em si mesmo e dotado de um significado. Veja que o próprio enunciado deixa claro o que se espera: a identificação de uma ocorrência dentro do próprio texto.

A alternativa correta é a letra B, pois no fragmento é postulada a necessidade do debate para que se legitimem as decisões políticas. Em um determinado trecho do fragmento, é dito que é necessário que a decisão política “ocorra a partir de uma ampla discussão pública, para somente então decidir”. 

Enem 2015
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. 
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles:

A) entravam em conflito
B) recorriam aos clérigos
C) consultavam os anciãos
D) apelavam aos governantes
E) exerciam a solidariedade

Resposta comentada
A questão requer do candidato a capacidade de ler, interpretar e relacionar o fragmento filosófico a um conhecimento prévio da História da Filosofia. Na obra Leviatã, o filósofo inglês Thomas Hobbes apresenta a sua teoria do contrato social, por meio da qual argumenta a favor do Estado monárquico como maneira de solucionar os conflitos surgidos no estado de natureza. Nessa acepção, o estado de natureza é um momento anterior à sociedade civil, onde não há ordem, pois todos são iguais e, justamente por isso, têm conflitos de interesse que somente se resolvem pela força.

A alternativa A está correta, pois a vontade de aquisição de um mesmo bem por duas pessoas livres e iguais, sem um Estado regulador, acarreta no embate e no conflito. 

Enem 2015
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.
BEAUVOIR, S. de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a):

A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. 
B) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho. 
C) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero. 
D) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. 
E) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

    
Resposta comentada
Essa questão requer do candidato a capacidade de ler, interpretar e relacionar o que foi lido, de maneira crítica, a uma situação cotidiana ou prática contemporânea. O candidato deve se atentar ao que Simone de Beauvoir está apresentando: aquilo que a sociedade chama de “feminino” não é algo biológico, físico ou psíquico, mas uma construção social. Por isso ela diz que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. As palavras de Beauvoir ressoam os ecos dos movimentos feministas, movimentos sociais contemporâneos que lutam pela igualdade de direitos entre os homens e as mulheres.

A alternativa correta é a letra C, pois há uma relação do fragmento que fala sobre o feminismo a um movimento social (mencionado no enunciado) marcante da década de 1960. A única opção que relaciona os dois pontos é a alternativa C.

Enem 2015
O que implica o sistema da pólis é uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual, assim como do jogo político. 
VERNANT, J.P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand, 1992 (adaptado).

Na configuração política da democracia grega, em especial a ateniense, a ágora tinha por função:

A) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em prol da cidade. 
B) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado expostas por seus magistrados. 
C) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para deliberar sobre as questões da comunidade. 
D) reunir os exércitos para decidir em assembleias fechadas os rumos a serem tomados em caso de guerra. 
E) congregar a comunidade para eleger representantes com direito a pronunciar-se em assembleias.

Resposta comentada
Nessa questão, é exigida do candidato a capacidade de ler, interpretar e relacionar o que foi lido a um conteúdo específico de outra disciplina, como a História, a Geografia ou a Sociologia. Aqui é esperado que o estudante tenha conhecimentos de Filosofia e de História, pois essas duas disciplinas se dedicam a estudar a política e a democracia grega. 

O enunciado pergunta sobre o papel da ágora na política democrática grega. Segundo a História e a Filosofia, a ágora era o local público (praça) onde ocorriam os debates e as votações em Atenas. Portanto, a resposta correta é a alternativa C.

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