A prova de redação do Enem tem tirado o sono de alguns candidatos, pois muitos ainda têm dificuldade de “pensar por escrito”, além disso, a modalidade exigida pela prova, a escrita formal, continua sendo um problema a ser vencido.
A língua falada e a língua escrita fazem parte do mesmo sistema, embora cada uma possua suas particularidades. Embora, muitos ajam como se a língua escrita fosse a transcrição da falada, isso não é verdade. Por isso, faz-se necessário diferenciá-las de forma clara para que a prova de redação não seja prejudicada.
A língua falada é espontânea e é acompanhada por diversos artifícios que não aparecem na língua escrita, tais como expressões fisionômicas, entonação, mímicas. Por isso, a língua escrita é mais rígida, uma vez que precisa transmitir a mensagem de forma clara e coerente, pois o interlocutor não está próximo.
O Enem exige que o texto dissertativo-argumentativo seja produzido em prosa e em linguagem formal, parece fácil, não é verdade? Para alguns, é simplesmente aplicar as regras de sintaxe (concordância, regência, colocação pronominal e pontuação), de ortografia, construir enunciados coerentes e coesos que o sucesso é garantido, mas não é bem assim. Claro que os fatores citados são muito importantes para o êxito da redação, mas existe outro critério que deve ser considerado: a adequação linguística.
Todo texto busca produzir sentido, mas para que isso aconteça de forma plena, é preciso que a linguagem esteja adequada à comunicação. Por isso, dependendo da relação entre os interlocutores (parceiros da comunicação), a linguagem será mais ou menos formal.
A formalidade e a informalidade estão presentes tanto na fala quanto na escrita, e muitos são os fatores que influenciam nessa divisão: contexto, grau de instrução, interlocutores etc. Embora pareça algo simples, a falta de adequação à norma culta tem reduzido a nota de muitos candidatos. Isso acontece porque muitos são influenciados pela fala e utilizam-se da escrita informal em detrimento da escrita formal exigida pelo Enem. A seguir, serão apresentadas algumas palavras ou expressões que, apesar de serem muito utilizadas, não são próprias da modalidade culta. Acompanhe:
- Marcas de interlocução, ou seja, expressões usadas na fala para testar se o interlocutor (emissor-receptor) está atento ou entendendo o que está sendo dito, por exemplo: “Certo?”, “Entendeu?”, “Viu?”, “Não sabe?”, “Bom.”, “Veja bem.”, etc. Essas expressões não devem ser evitadas na prova de redação, elas devem ser eliminadas, pois não são adequadas para a modalidade formal por fazerem parte da fala;
- Palavras abreviadas, tais como vc, pq, tá, tô, ou reduzidas, pra, cê, peraí etc., também não devem aparecer em um texto formal, pois representam marcas de oralidade (fala).
- Evite o uso exagerado dos conectivos que e e. Além disso, cuidado com as palavras que servem de conectivos, tais como então, daí, aí etc. Procure utilizar conjunções mais exatas, por exemplo, se a ideia a ser estabelecida é de oposição, utilize uma das conjunções coordenativas adversativas; se é de conclusão, use as conclusivas, pois, para cada sentido que se queira produzir, haverá uma conjunção adequada.
- Elimine as gírias e os coloquialismos (expressões usadas na fala), como pega leve, se toca, dar um rolé etc. Caso os coloquialismos sirvam naquele contexto para criar determinado efeito de sentido, como crítica ou ironia, use as aspas, elas demonstram para o corretor que a expressão foi utilizada intencionalmente e que o candidato compreende que ela não seria adequada àquele contexto.
- Lembre-se de que o texto dissertativo-argumentativo não tem como finalidade mediar uma conversa entre interlocutores, portanto, cuidado com os pronomes que possam remeter a diálogos, como: você, sua, seu, a gente, nós etc.
A leitura é uma grande aliada para a prova de redação. Então, leia muito, procure ler diversos tipos de texto em linguagem verbal ou não verbal. Faça associações entre eles, seja um leitor crítico, chame os amigos para um “papo-cabeça”, não se esqueça de que o conhecimento de mundo (aquilo que é adquirido na escola e fora dela) é muito importante na construção da argumentação.