O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2017 chegou ao fim no último domingo, 12 de novembro. Depois de muita expectativa em relação às provas, os participantes agora aguardam as notas.
O resultado do Enem 2017 só sai em 19 de janeiro de 2018, mas os estudantes já conseguem ter uma ideia de como se saíram no exame com base no Gabarito Oficial. Além disso, é possível fazer um balanço do que foi o Enem deste ano e, ainda, comparar com edições anteriores.
Algumas pessoas que participaram do Enem 2017 contaram ao Super Vestibular como foi a experiência. Confira!
Buscando um sonho
Michelle Oliveira é de Morrinhos, cidade do interior de Goiás. Aos 26 anos, a morrinhense participou do Enem pela segunda vez (a primeira foi em 2009) para tentar realizar um sonho: conseguir ingressar no curso de Psicologia. "É bom poder usar a nota do Enem para entrar na universidade, já que você pode concorrer em diferentes estados sem precisar ir até o local para fazer a prova", afirma.
A jovem fez o Enem quando ainda estava no ensino médio, em 2009, ano em que o exame inaugurou o seu formato de dois dias, 180 questões e divisão por áreas. Michelle terminou os estudos em 2010, iniciou outros cursos superiores de tecnologia e acabou deixando-os para trás, já que seu sonho realmente era a Psicologia.
Michelle comparou o Enem 2017 com as edições anteriores e, em sua opinião, as questões deste ano cobraram menos interpretação dos estudantes, mas que a dificuldade continou a mesma dos outros anos. "No entanto, a prova estava mais fácil de entender, já que ela estava escrita de forma mais direta", destaca.
Para Michelle, um ponto interessante do Enem 2017 foi a redação. "Hoje é bastante falado sobre a inclusão, mas se você não tiver bons argumentos, você não se dá bem na hora de redigir a redação, por parecer um tema fácil". Ela acredita que para se sair bem é preciso saber lidar com o tema no momento da escrita.
Vocação de uma vida
Maíra Maus, de 31 anos, é professora de Educação Física e tradutora intérprete de Libras. Moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a gaúcha teve contato com a Língua Brasileira de Sinais (Libras) de forma natural desde a infância, já que é filha de pais surdos.
A convivência intensa com a Língua Brasileira de Sinais despertou em Maíra o interesse de ensinar estudantes surdos, o que a levou a fazer um curso de capacitação em Libras pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul).
O Enem surgiu na vida de Maíra como uma forma de se aprofundar no ensino de pessoas com surdez. "Fiz a inscrição pensando em tentar o curso de Pedagogia bilíngue, para melhorar e adquirir mais conhecimento enquanto professora de surdos", ressalta. No entanto, como já atua na área, a gaúcha pensa atualmente em concorrer ao curso de Letras para buscar concursos públicos para a função de tradutor intérprete de Libras.
Maíra comemora a temática escolhida para a redação do Enem 2017. Ela acredita que é um marco para a comunidade surda, um meio de dar visibilidade para a educação dessas pessoas e incentivar a capacitação de mais profissionais que queiram atuar com Libras, por exemplo.
Entre a arte e o cuidado com o próximo
Apaixonada pela arte, Andressa Samanta, de 20 anos, é bolsista da Orquestra Sinfônica Juvenil de Jundiaí e estuda Música na Escola Municipal de Música de São Paulo. A jovem fez o Enem 2017 com o objetivo de conseguir uma bolsa no Programa Universidade Para Todos (ProUni), para cursar Fonoaudiologia.
Além disso, Andressa está participando de Vestibulares em licenciatura em Educação Musical nas universidades de São Paulo (USP), pela Fuvest, e na Estadual Paulista (Unesp). Ela também tenta Fonoaudiologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
"Quando eu li o tema da redação meu corpo se encheu de alegria! Meus olhos se encheram de lágrimas e me contive para não chorar de felicidade" - Andressa Samanta sobre o tema da redação do Enem 2017
A jovem que vive em meio ao som conhece bem a realidade da comunidade surda, já que é filha de pais surdos. Sua satisfação foi ver que o tema da redação englobava os desafios que seus pais e outros tantos amigos e conhecidos enfrentam. "Quando eu li o tema da redação meu corpo se encheu de alegria! Meus olhos se encheram de lágrimas e me contive para não chorar de felicidade", relata.
Para a jovem, a abordagem adotada pelo Enem é importante, já que os surdos não possuem muita visibilidade na mídia e sofrem com a falta de acessibilidade. Além disso, Andressa ressalta o ganho que os participantes surdos tiveram com a adoção da prova em vídeo-Libras. "Vários estudantes deram feedback dizendo que conseguiram compreender a prova", comemora.
Um olhar crítico
Com o objetivo de conseguir uma bolsa para o seu último ano de faculdade, a estudante de Relações Públicas Luiza Maritan, de 26 anos, fez o Enem deste ano. A estagiária da área de conteúdo acompanhou todas as mudanças do exame, já que sua primeira prova foi quando o Enem ainda era aplicado em um só dia e tinha como objetivo avaliar o ensino médio.
No próximo ano, Luiza encerra sua graduação em Relações Públicas, mas ainda não sabe como será seu futuro. A jovem conta que estuda as possibilidades de atuação e que durante a faculdade se apaixonou pela área de audiovisual.
Para Luiza, o atual formato do Enem cobra muito dos estudantes, inclusive o que ela acha que são assuntos que não serão úteis no curso superior. A estudante de RP acredita que o exame deveria cobrar mais o exercício do senso crítico de seus participantes e investir mais na interpretação de texto, além de aumentar o uso de questões do cotidiano.
Mesmo considerando importante a abordagem do tema da redação sobre os desafios enfrentados pelos surdos, Luiza considera "um recorte pequeno" dentro de uma realidade muito maior. Para ela, seria mais interessante dar aos estudantes a possibilidade de argumentarem sobre os diferentes tipos de deficiência e o que pode ser feito para melhorar a acessibilidade.