A concorrência do vestibular de Medicina da Fuvest é sempre muito alta, já que trata-se de uma das maiores seletivas do país. Geralmente, os aprovados são jovens que passaram o ensino médio estudando especificamente para o processo seletivo da Universidade de São Paulo (USP).
Com a farmacêutica Sarah Santos de Melo foi diferente. Ela conseguiu a aprovação aos 28 anos, mais de dez anos depois de terminar o ensino médio e após já ter concluído uma graduação.
Sarah gosta da área médica desde criança, interesse que foi despertado após idas frequentes aos hospitais por conta de um problema respiratório. Ela até tentou passar no vestibular de Medicina da Fuvest quando estava no ensino médio, mas não conseguiu porque teve que trabalhar para ajudar a família, o que prejudicou os estudos.
"A USP sempre foi meu sonho, porque eu sou paciente do HC desde os 5 anos de idade e, desde criança, me imaginava lá dentro como médica provendo aos pacientes aquilo que os médicos faziam por mim."
Sem conseguir a aprovação no curso de preferência, buscou uma alternativa e cursou Farmácia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. No entanto, confessa que, no fundo, ainda não se sentia totalmente completa, mesmo trabalhando no Hospital das Clínicas (HC).
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Mudança de carreira
No ano de 2018, Sarah decidiu que iria mudar de carreira, voltou a estudar e matriculou-se no cursinho do Poliedro. Com o conhecimento adquirido no curso de Farmácia, foi aprovada no processo seletivo para a monitoria do Poliedro, onde ficou dois anos auxiliando os professores.
Já no ano passado, a farmacêutica conseguiu uma bolsa de 100% no cursinho, o que foi fundamental para conseguir se dedicar integralmente aos estudos para o vestibular da Fuvest.
Desafios
Ao longo da preparação, Sarah teve que reaprender o conteúdo das disciplinas do ensino médio. "Eu estudava em uma escola na periferia, que não tinha foco em grandes vestibulares, como colégios tradicionais de São Paulo", relata a caloura.
Sarah também relata que sentia uma pressão maior por já ser formada, e chegou a se questionar por ver pessoas da sua idade trabalhando e constituindo família.
Por vir de uma família de baixa renda e ser a primeira a cursar um ensino superior, a expectativa da família era que ela entrasse no mercado de trabalho e tivesse um salário melhor para ajudar a mãe, já que o pai havia falecido antes mesmo dela nascer.
"Quando eu decidi parar e me dedicar ao vestibular, foi um choque para todos. Conversamos muito sobre isso e eu explicava que era um sonho muito grande, apesar de arriscado."
Para superar essa pressão e manter a saúde mental, buscou ajuda na psicoterapia e apoio de familiares e amigos. Para ela, lidar com as questões emocionais foi fundamental para a aprovação.
Controlando o emocional
Levando em conta a Universidade e o curso escolhido, já que a vaga em ambos são muito concorridas, Sarah comenta que estava segura quanto a sua preparação e, consequentemente, aprovação.
“Eu sabia que em algum momento eu passaria em Medicina, só não sabia quando. Buscava trabalhar essa ansiedade e a frustração."
Para a prova ela confessa que teve que trabalhar bastante o emocional para não deixar o nervosismo e o medo a dominarem. Para isso, treinou muito o tempo de prova, as suas condições, o conteúdo e também situações de desespero.
Para a caloura de Medicina, o conhecimento técnico é adquirido, mas o que faz entrar na faculdade é entender como a mente funciona. Conseguir controlar a ansiedade e o nervosismo na hora da prova é fundamental. “Ter estratégia e autocontrole é tão importante quando se preparar ao longo do ano", conclui.
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Rotina de estudos
Sarah brinca que se não estivesse estudando estaria dormindo, mas não fazia disso um peso, pois sempre foi de significar suas ações. Ela afirma com facilidade que estudava cerca de 13 horas por dia.
A farmacêutica confessa que nunca foi de seguir um cronograma rígido, porém percebia que era necessário para manter uma disciplina. Ela estudava de segunda a sábado e fazia simulado todo domingo.
Durante a semana, assistia às aulas na parte da manhã até as 13h10 e, quando tinha a tarde livre, começava a estudar às 14h e ia até as 21h30 ou 22h, dependendo do dia. Quando tinha aula à tarde, estudava das 18h às 22h.
Aos sábados, depois das aulas da manhã, estudava até às 18h. Aos domingos, acordava mais tarde e fazia apenas o simulado, mas quando deixava algo incompleto ao longo da semana, tentava repor neste dia para começar a semana seguinte sem atrasos.
“Mesmo que eu fosse estudar algo cansativo e chato, eu buscava lembrar do porquê de eu estar ali. Mesmo quando eu estava assistindo a um filme ou noticiário, eu instantaneamente relacionava alguma cena, alguma fala, alguma informação com o repertório cultural para a redação”
Sarah assimilava as dicas e estratégias de provas e, quando não entendia algo, buscava o plantão de dúvidas. "Também busquei aplicar o método de revisão ativa, no qual eu sempre estava revendo conteúdos já passados para mantê-los frescos na memória”.
Por já ter uma graduação e ter trabalhado, ela acredita que facilitou o seu entendimento do seu objetivo, fazendo com que tivesse mais foco e disposição para estudar. E quando o cansaço batia, ela parava e descansava.
Vida além dos estudos
Além de estudar, Sarah também buscava ter uma vida social, apesar de cumprir rigidamente a quarentena nesse último ano, por ser do grupo de risco e morar com a mãe idosa.
Nos intervalos das aulas ela evitava estudar, ia conversar com amigos em aplicativos de conversas do celular, assistir alguma coisa legal na internet, tentava manter essa rede de contatos para aliviar a tensão.
Além disso, ela costumava caminhar com a mãe três vezes na semana para espairecer, fazia terapia uma vez por semana e descansava na noite de sábado e fim de domingo. “Eu buscava não me sentir culpada por essas pausas, porque eu sabia que isso também interferia no meu desempenho"..